Foto de Lorena usando um óculos redondo, uma jaqueta jeans clara com detalhes felpudos na gola. Ela é branca, tem cabelos loiros, está com uma mão no queixo e sorrindo de lado. Ao fundo, uma parede clara e a bandeira LGBT. No canto superior esquerdo, a logo do Vale.
Sou a Lorena Eltz, tenho 20 anos, lésbica e PCD. Quando criança eu recebi o diagnóstico de uma doença crônica que me causou várias dificuldades ao longo da infância e adolescência. Com 12 anos eu precisei retirar meu intestino grosso devido a inflamações e com isso precisei colocar a bolsa de colostomia, me tornando mulher PCD. Sou uma menina que sempre gostou de estudar, buscou seus objetivos e acabou encontrando na internet uma forma de expressar seu sentimentos através de vídeos e textos em 2015. Em 2017 comecei a passar por processos de descoberta de sexualidade, abri meus olhos para esse mundo e percebi que eu também era lésbica. Desde então tenho passado por processos de aceitação e autoconhecimento maiores mas sempre tentando dividir isso online.
Qual é o seu propósito? (O que te motivou a se expor e onde você quer chegar?)
De início minha motivação era compartilhar as minhas diferentes experiências para me sentir menos sozinha na internet e com o tempo percebi que meus vídeos representam e dão voz a vida de muitos jovens que se sentem invisíveis. Meu propósito é levar ao maior número de pessoas o acesso a representatividade e diversidade de vidas que não são representadas na mídia para que se sintam pertencentes de uma comunidade dentro e fora da internet.
O capacitismo e a lgbtfobia estão presentes na sua vida? O que mais te incomoda?
Sim. O que mais me incomoda é o capacitismo que somente com o tempo eu percebi porque eu era tratada de forma tão diferente dos outros, até mesmo dentro da família. Minha deficiência não é visível e por isso as pessoas acabam tentando me elogiar como se eu fosse “sortuda” de não ter algo tão grave. Como se deficiência fosse um xingamento ou algo ruim para alguém. Eu acredito que a junção do capacitismo com a lesbofobia me atrapalhou inclusive na minha descoberta como lésbica onde eu não explorava minha sexualidade enquanto mulher e não me sentia pertencente à nenhuma sigla por muito tempo.
O que as pessoas podem fazer para eliminar essa estrutura desigual?
Parando de reproduzir certos comportamentos e estruturas tão heterocisnormstivas e capacitistas de uma sociedade que ainda é excludente. Precisamos rever nosso vocabulário, nossos julgamentos sobre o corpo e vida dos outros. Parar de reproduzir esteriótipos e cobrar mais da mídia para que pessoas mais diversas se sintam mais inclusas no mundo. Precisamos treinar nossos olhares para aceitar melhor as diferenças de cada um e entender que errado é achar que todo mundo é igual. Furar nossa bolha e perceber que as pessoas são diferentes e tem necessidades e oportunidades diferentes.
Qual a melhor maneira de promover acessibilidade para você?
Acredito que o trabalho que vem sendo feito na internet de ocupação dos PCDs é muito importante para mostrarmos que sempre estivemos aqui vivendo no mesmo mundo que as outras pessoas. Ainda somos esquecidos e marginalizados, mas cada vez que chegamos e nos posicionamos na internet mostramos que nossa vivência tem valor.
Qual a importância da representatividade? Você tem alguma pessoa com deficiência como referência?
Representatividade é tudo para uma pessoa que se sente sozinha em um mundo que nos ataca no dia a dia. Uma das minhas referências é a Hannah Witton que também é lésbica e tem colostomia. Ela fala sobre sexualidade nas redes sociais dela e eu gosto muito!
Algum comentário final?
Sigam pessoas diversas na internet e ouçam nossas vivências!!